
“E a padiola ia e vinha, rangendo lugubremente”:
Author(s) -
Dhenis Silva Maciel,
Jucieldo Ferreira Alexandre
Publication year - 2021
Publication title -
revista m
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2525-3050
DOI - 10.9789/2525-3050.2021.v6i11.92-108
Subject(s) - political science
O presente artigo visa compreender como os coveiros, durante a epidemia de cólera no Ceará de 1862, foram representados sob um olhar de desconfiança, preconceito e condenação, numa conjuntura de medo e morte generalizada, quando o enterro massivo de corpos tornou-se questão sanitária fundamental. A epidemia atingiu o cotidiano, afetou as práticas fúnebres locais, promoveu a urgência na construção de cemitérios para abrigar os milhares de mortos vitimados pela doença e a contratação de coveiros. A atuação destes tornou-se alvo de apreensão das autoridades. Para tal intento, analisamos documentos oficiais, imprensa, literatura, registros paroquiais e livros de memória, à luz da análise discursiva e do entrecruzamento dos documentos. As fontes demonstram que a preocupação com os cemitérios e enterros acarretaram medidas de coação, que forçaram homens miseráveis, inclusive presidiários, a assumirem, sob violenta coerção policial, as inumações dos coléricos.