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A filosofia e os seus cães: dos cínicos à canalha
Author(s) -
Diogo Sardinha
Publication year - 2011
Publication title -
revista de filosofia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.1
H-Index - 2
eISSN - 1980-5934
pISSN - 0104-4443
DOI - 10.7213/rfa.v23i32.1744
Subject(s) - philosophy , humanities
Ao longo de sua história, a filosofia se mostrou sobejamente avessa à insolência e à selvajaria. No entanto, quem determina as fronteiras desses espaços, as linhas para lá das quais uma conduta se torna intolerável? Na sua antropologia, típica do século das luzes, Kant critica o que considera ser o caráter selvagem da populaça. Para ilustrar o que pretende dizer, ele recorre à expressão francesa canaille du peuple. Bem mais próximo de nós, Foucault se interessa pela figura antiga do filósofo cínico, que ele apresenta como um insolente à vista dos códigos da cidade, a qual acaba por excluí-lo. Ora, a raiz etimológica de canaille e de cínico é a mesma: o cão. A partir daqui, várias perguntas se insinuam: que relação existe entre a canalha, isto é, os cães do povo; e os cínicos, cães da filosofia? Se o cínico é filósofo, significa que a animalidade é interior à filosofia? As respostas a essas interrogações se tornam mais difíceis quando se compreende que as tensões entre seus elementos são mais complexas do que se julgava

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