
Cidade e cidadela: a nação reimaginada em Janela de Sónia de Manuel Rui
Author(s) -
Ludmila Guimarães Maia
Publication year - 2018
Publication title -
scripta
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2358-3428
pISSN - 1516-4039
DOI - 10.5752/p.2358-3428.2018v22n46p115-126
Subject(s) - humanities , political science , art
Janela de Sónia (2009), do escritor angolano Manuel Rui, narra a saga de uma família refugiada na guerra civil em Angola, lutando pela sobrevivência, enquanto vai construindo um verdadeiro império com os destroços de uma cidade. A medida em que a fazenda transforma-se de um espaço abandonado em uma empresa próspera, vemos desvelar-se, ao mesmo tempo, uma metonímia da reconstrução do país e uma metáfora da capital Luanda. Legitimado pela ação de nacionalização de bens praticada pelo governo pós-independência, o protagonista Samuel logra não só reconstruir a fazenda, senão também se transformar no grande provedor de bens escassos, contribuindo igualmente com a reconstrução da cidade da Caála. A imagem ambígua do personagem reflete a realidade do país no pós-independência, quando a transferência do poder das mãos dos colonos para a elite colonizada não significou a ruptura das estruturas de controle do capital e de dominação da população. Luanda representa a autonomia conquistada pelos revolucionários e o modelo de ordem e prosperidade em meio ao caos bélico, não obstante, sendo a instância legal primeira do país, atua também como uma ameaça à posse legítima da fazenda. O objetivo deste trabalho é analisar como se dá o processo de reconstrução do campo e da cidade no contexto bélico pós-independência, tendo em conta a tensão gerada entre esses dois espaços, e compreender como o autor logra construir, ao mesmo tempo, uma metonímia da reconstrução do país e uma metáfora da capital Luanda, no cenário ambientado no interior de Angola.