
A política do amor: (des)subjetivação dos corpos em Love, de Gaspar Noé
Author(s) -
Jonatas Aparecido Guimarães
Publication year - 2020
Publication title -
cadernos cespuc de pesquisa. série ensaios
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2358-3231
pISSN - 1516-4020
DOI - 10.5752/p.2358-3231.2020n36p42-54
Subject(s) - humanities , art , philosophy
Este artigo propõe uma leitura do filme Love, de Gaspar Noé, observando-se os movimentos de (des)subjetivação dos personagens, a partir da perspectiva do controle sobre a vida instaurada pela biopolítica. No decorrer de suas cenas, a produção cinematográfica em análise esvazia um possível subjetivismo que poderia ser sugerido pelo título, de forma que o amor é construído como uma relação puramente corporal. Essa dessubjetivação, mais que um aspecto temático, é incorporada à própria composição estética do filme, cujas fotografias e enquadramentos, ao promoverem a hiperexposição de cenas de sexo, operam uma fusão dos corpos que leva à dissolução dos indivíduos. Procura-se demonstrar, dessa maneira, que há nessa construção estética uma encenação da violência implícita nas relações sexuais e na própria ideia de amor, uma vez que ambos são codificados por discursos que pressupõem, em última análise, o controle da vida e da morte. Por fim, procura-se evidenciar que a produção de Gaspar Noé assume uma dimensão política quando, ao trazer para o palco a hiperexposição da obscenidade, promove uma reconfiguração do sensível que permite entrever possibilidades de reencontro entre o sujeito e o corpo.