
O O negro, o índio, a cidade e o esquecimento: a cartografia dos vencidos como uma possibilidade de leitura do território
Author(s) -
Maria Ester Ferreira da Silva Viegas
Publication year - 2020
Publication title -
caderno de geografia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2175-3040
pISSN - 0103-8427
DOI - 10.5752/p.2318-2962.2020v30nesp2p301
Subject(s) - humanities , art
Um dos aspectos importantes da crítica da cartografia geo-histórica é que ela seguiu um curso de limpeza étnica. A cartografia é um “discurso de poder”, cujo silêncio em relação às populações minoritárias ou dominadas são recorrentes. Os mapas utilizados nas escolas, principalmente nas áreas rurais, não retratam os povos tradicionais: indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, pescadores, pequenos agricultores rurais etc. Uma abordagem menos eurocêntrica da cartografia histórica é discutida pós-1945, mas não consegue chegar até às populações locais. Os povos se deslocam, erguem cidades, mas não são visibilizados cartograficamente nelas. É oportuno apontar estas invisibilidades dos povos tradicionais, a exemplo dos quilombolas da Tabacaria e dos índios Xucurus-Kariris, ambos localizados na cidade de Palmeira dos Índios-Alagoas. A negação da cartografia dos povos indígenas e quilombolas nas cidades onde coexistem é a negação da própria história da cidade. Urge que se produza e divulgue uma cartografia social dos conflitos pela terra, das territorialidades indígenas e quilombolas que emergem cotidianamente, das lutas dos diferentes povos em todo território alagoano. Compreende-se que, para retirar os povos tradicionais dessa invisibilidade jurídica, cartográfica e política, é necessário que os pesquisadores estejam atentos, apostem numa outra cartografia: a cartografia social, onde as populações locais sejam visibilizadas, localizadas e discutidas dentro do planejamento da cidade, nos conteúdos curriculares, na vida da cidade, construindo uma geografia que os tire da condição de “esquecimento” no qual foram encarcerados pelos geo-historiadores da escrita estamental