
PARRHESÍA NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ÉTICO EM M. FOUCAULT: ANÁLISE DOS CURSOS NO COLLÈGE DE FRANCE, 1982-1983
Author(s) -
Carlos Renato Moiteiro,
Evandro Sousa da Mata
Publication year - 2016
Publication title -
sapere aude
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2177-6342
pISSN - 2176-2708
DOI - 10.5752/p.2177-6342.2016v7n13p269
Subject(s) - humanities , philosophy
No conjunto das obras do filósofo francês Michel Foucault, a constituição do sujeito na modernidade constitui uma de suas principais preocupações e fio condutor de sua pesquisa. Sob o prisma de acontecimentos singulares, situados espacial e historicamente, a emergência de uma subjetividade na construção do pensamento ocidental é tomada pelo autor sempre em sua relação com a verdade – ou melhor, com as formas de dizer a verdade sobre o sujeito . Tal perspectiva apresenta-se de forma constante nos cursos do autor: enquanto, num primeiro momento, ocupa-se de examinar a relação estabelecida entre sujeito, saber e verdade, segundo uma arqueologia dos jogos de verdade que regem os saberes de determinada epistémê , e que constituem o sujeito no interior do discurso, posteriormente passará a investigar as práticas que permitem estabelecer relações entre o sujeito e a verdade mediadas por mecanismos os mais diversificados de poder; dá, assim, origem a uma genealogia das práticas e mecanismos de poder, que integram o discurso e o estende em formas concretas de subjetivação. Como desdobramento último desta genealogia das práticas de subjetivação , Foucault entrevê, na história das relações do sujeito consigo mesmo – de modo especial, nos contornos diversos que tais relações assumiram durante a Antiguidade –, o modo pelo qual o indivíduo tem acesso à verdade, mediante as operações que realiza em si. No presente trabalho, tomaremos como objeto de análise a obrigação de dizer a verdade – a saber, a parrhesía –, tal como este conceito é apresentado nos cursos de 1982 ( A hermenêutica do sujeito ) e 1983 ( O governo de si e dos outros ) no Collège de France, como elemento articulador entre verdade e práticas de si, analisando o caráter de exigência de sua proposição, enquanto constituidora de um ethos do sujeito da Antiguidade, bem como suas implicações no âmbito da experiência política.