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IMPORTÂNCIA DO CORPO PARA A FAMÍLIA ENLUTADA: CRENÇAS, RITUAIS E SENTIMENTOS QUE PODEM INTERFERIR NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Author(s) -
Daniela Melaré Vieira Barros
Publication year - 2020
Publication title -
brazilian journal of transplantation
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2764-1589
DOI - 10.53855/bjt.v23i4.39
Subject(s) - humanities , art , philosophy
A morte é um fenômeno que invariavelmente está presente no cotidiano de todas as famílias. Apenas os seres humanos, dentre todos os seres vivos, sabem que morrerão. A família exerce papel mediador no processo saúde-doença, como mantenedora da saúde, e na doença participando do processo de cura, reabilitação e morte. Portanto, acontecimentos de ordem natural e acidental com um dos membros afetam o corpo familiar, e a possibilidade de ruptura de um vínculo pela morte causa intensa desestruturação emocional, psicológica e espiritual. Assim como o casamento, a morte também é um ato ritualizado. O próprio funeral funciona como um rito de passagem, que ajuda a família a internalizar e aceitar o óbito. Os enlutados iniciam os ritos de separação do morto, onde permanecem até se sentirem prontos para a suspensão do luto e reintegração social. Os velórios, funerais e outros rituais relacionados com a morte servem para contextualizar a experiência. A devoção nos cuidados com o cadáver revela a inquietação que a morte provoca e a tentativa dos enlutados em buscar por conforto e aceitação. Nesse contexto, analisamos como a relação com o corpo do parente falecido, considerando-se todos os rituais fúnebres e o luto em si, pode interferir na decisão da família em doar ou não os órgãos. A literatura evidencia que, dentre as famílias entrevistadas, 15,7% do total recusaram a doação, sendo que 17,6% destas enfatizaram o desejo de manter o corpo íntegro. Outra razão apontada pelos familiares na recusa à doação foi o tempo para a devolução do corpo, para começar os cortejos fúnebres, que é cerca de 24 horas. A recusa familiar para a doação de órgãos é permeada por questões legais, morais, éticas e religiosas. Por mais necessário que seja o aumento das autorizações para a doação de órgãos, possibilitando a continuidade de vidas desconhecidas, há que se respeitar a decisão de cada família, tomada no contexto de seu repertório.

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