
Como seria ver como um ser humano?
Author(s) -
Étienne Bimbenet
Publication year - 2012
Publication title -
doispontos
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2179-7412
pISSN - 1807-3883
DOI - 10.5380/dp.v9i1.29100
Subject(s) - philosophy , humanities
Perguntaremos aqui "como seria ver como um ser humano". Tal questão é difícil, pois recuando um passo em relação à percepção e considerando que ela pode não ser o que é, essa questão vai de encontro àquilo que é comumente considerado como a "atitude natural". Merleau-Ponty articulou esta relativização da visão humana e seu realismo espontâneo de duas maneiras diferentes. Em primeiro lugar, há o que poderia ser chamado a "via da finitude". Ela consiste em assumir o ponto de vista de parte alguma para a percepção, o ponto de vista de um espírito sem ligações mundanas. Poder-se-ia dizer então, como Merleau-Ponty não pára de dizer, que perceber não é ver de parte alguma, eque sempre percebemos a partir de algum lugar, em um corpo finito, e não do ponto de vista de deus. Nossa origem animal, contudo, oferece uma segunda maneira completamente diferente de frustar o dogmatismo da fé perceptiva. Essa é a via adotada por Merleau-Ponty em A estrutura do comportamento, onde muito naturalmente ele é levado a interrogar o que distingue a percepção animal da percepção humana. Sua resposta é valiosa: ver como um ser humano significa ser capaz de "multiplicidade perspectiva". Apreender tal conceito e encarar a visão humana como plural e como excesso, apenas é possível para quem abandonou o ponto de vista de parte alguma e decidiu filosofar começando pelo animal.