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Maldição da Tolerância
Author(s) -
Isabelle Stengers,
Helena Santos Assunção
Publication year - 2020
Publication title -
r@u
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2175-4705
DOI - 10.52426/rau.v12i1.343
Subject(s) - humanities , philosophy , physics
Não há nada mais fácil para um moderno do que ser tolerante. Como ele não o seria? Como nós não o seríamos? Não me refiro aqui aos “outros”, a todos aqueles que exortamos às virtudes da tolerância. Eu falo de “nós”, e esse “nós” não designa um coletivo concreto ao qual deveríamos saber se pertencemos ou não, mas o conjunto dos destinatários da mensagem moderna. É a mensagem moderna - retomada de uma forma ou de outra por uma diversidade de saberes - que cria essa verdadeira palavra de ordem, atribuindo-se instantaneamente como destinatário2 esse “nós”, que escreve ou fala, que lê ou ouve: “nós” não somos como os outros, aqueles que definimos por crenças que não podemos mais compartilhar, e isso constitui nosso orgulho, mas talvez também nosso drama. De fato, a época não é para cruzadas. A palavra de ordem até se desdobra, às vezes, em uma vibração nostálgica. Tolerante é aquele, ou aquela, que mede o quão dolorosamente pagamos pela perda das ilusões, das certezas que atribuímos àqueles que pensamos que “creem”. Felizes são aqueles cuja confiança permaneceu intacta; eles habitam o lugar para onde nós, modernos, não podemos retornar exceto como caricaturas, seitas ou totalitarismos.

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