
O estatuto da violência no cinema brasileiro contemporâneo: uma análise psicanalítica acerca dos processos de subjetivação e de sofrimento psíquico no Brasil
Author(s) -
Mila Macêdo Veríssimo,
Juliano Moreira Lagôas
Publication year - 2022
Publication title -
programa de iniciação científica - pic/uniceub
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2595-4563
DOI - 10.5102/pic.n0.2020.8211
Subject(s) - humanities , movie theater , sociology , philosophy , art , art history
Esta pesquisa parte da consideração de que a cultura nos oferece caminhos instigantes eprofícuos no sentido da ampliação e do aprofundamento de nossa compreensão acerca dalógica de produção social e subjetiva da violência no Brasil contemporâneo. Em particular,pensamos aqui no cinema e em sua capacidade de afetar o ser mais íntimo dos sujeitos e dassociedades. Dentre as formas de expressão artísticas na atualidade, talvez seja o cinema -como dizia Benjamin, "a arte das massas" - a que melhor exprime os impasses subjetivos, osdesafios éticos e os paradigmas estéticos em torno dos quais a problemática da violência noBrasil contemporâneo se estrutura. Desse modo, o presente estudo teve como objetivoinvestigar o estatuto da violência no cinema brasileiro contemporâneo, procurandocompreender o papel exercido pelo afeto do medo nos processos de subjetivação e desofrimento psíquico no contexto da sociedade brasileira atual. Para isso, a pesquisa foidesenvolvida em duas frentes de trabalho complementares. Por um lado, e inicialmente,tratou-se de examinar o modo como a problemática da violência – apreendida sob a ótica desuas relações com o medo, com a agressividade e com a ambivalência dos afetos – seestabelece no discurso psicanalítico, bem como explorar algumas das discussões filosóficopolíticasacerca de características e dinâmicas fundamentais das sociedades contemporâneas,especialmente no que diz respeito aos modos de vida instituídos pelo modelo econômiconeoliberal. E, de outro lado, procurou-se analisar, à luz das reflexões proporcionadas pelaexploração teórico-conceitual, algumas obras do cinema brasileiro contemporâneo: Bacurau(Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, 2019), O som ao redor (Kleber Mendonça Filho,2013) e Tropa de Elite (José Padilha, 2007). Do ponto de vista metodológico, adotamos osprincípios da análise de discurso, em sua matriz francesa, articulados aos aportes teóricoclínicosda psicanálise. Nesse sentido, foi possível verificar o papel estruturantedesempenhado pelos fenômenos da violência e da agressividade, e pelo afeto do medo, nosprocessos de formação das subjetividades na realidade brasileira contemporânea. Vimosque a problemática da violência não se esgota na questão de saber se se trata de umfenômeno social ou individual. Mais do que isso, implica a tarefa de delimitar e compreenderas articulações e disjunções entre o individual e o social no processo de constituição do campoda violência, procurando situar aí o sujeito tal como a psicanálise o concebe, isto é, enquantoser ao mesmo tempo individual e social. Por essa via, observou-se implicações do modeloeconômico neoliberal nos modos de subjetivação que, fundados na lógica da segurança, daperformance e do desempenho, conduzem progressivamente a um apagamento dassingularidades, ao cerceamento das subjetividades, e, finalmente, à produção de sofrimentopsíquico. Em conjunto, os filmes analisados no trabalho revelaram-se, cada um à sua maneira,demonstrações da ideia de que a violência não é sinônimo de irracionalidade, na medida emque ela exprime certos ideais de vida, exigências sociais e expectativas de reconhecimentocaracterísticas de uma época.