
O diálogo de Calvino com Hermes-Mercúrio em "As cidades invisíveis"
Author(s) -
Gláucia Muniz Proença Lara,
Maria Magda de Lima Santiago
Publication year - 2015
Publication title -
anuário de literatura
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2175-7917
pISSN - 1414-5235
DOI - 10.5007/2175-7917.2015v20nesp1p123
Subject(s) - semiotics , narrative , mythology , articulation (sociology) , subtitle , sociology , humanities , literature , philosophy , art , linguistics , political science , politics , law
Este trabalho apresenta a análise do discurso de cinco narrativas do livro As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, que, reunidas sob o título As cidades e as trocas, descrevem as cidades de Eufêmia, Cloé, Eutrópia, Ercília e Esmeraldina. O livro apresenta onze títulos, que nomeiam cinco narrativas cada um. No grupo escolhido, identificamos a presença da mitologia, na figura do deus Hermes, Mercúrio ou Thoth, do sincretismo greco-romano-egípcio, por quem Calvino declarou seu interesse mais de uma vez. Essa referência, explícita no discurso de Esmeraldina e Eutrópia e implícita em Eufêmia, Cloé e Ercília, despertou nosso interesse em investigar como o discurso estabelece ligações com Mercúrio – considerado, entre outras coisas, o deus das estradas, do comércio, da comunicação, da transformação e das trocas; e, como ele é nomeado por Calvino em Eutrópia: o “deus dos volúveis”. Por meio do exame dos temas, figuras e isotopias, conceitos mobilizados pela semiótica francesa (ou greimasiana), e de sua articulação com a noção de interdiscurso, oriunda da análise do discurso francesa (AD), buscamos verificar o diálogo que se instaura entre o discurso literário e o discurso mítico. Alguns dos princípios apresentados na Tábua esmeraldina – texto supostamente atribuído a Hermes e que nomeia uma das cidades – auxiliaram-nos a confirmar esse diálogo interdiscursivo que é trazido para o fio do discurso de Calvino (o intradiscurso) e que se mostra compatível com a recorrência de certos temas extraídos do referido grupo de narrativas. As análises também possibilitaram associações com o conceito de rizoma, proposto por Guattari & Rolnik, que é figurativizado por Calvino nas descrições de linhas e formas, indicando que a obra dialoga tanto com o antigo quanto com o contemporâneo, trafegando entre a memória e a mobilidade de reconfigurações de valores e comportamentos