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Um estudo pancrônico sobre o verbo "lacrar" a partir dos processos de semanticização, lexicalização, gramaticalização e discursivização
Author(s) -
Vanessa Leme Fadel Steinhauser
Publication year - 2022
Publication title -
working papers em linguística
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 1984-8420
pISSN - 1415-1464
DOI - 10.5007/1984-8420.2021.e74734
Subject(s) - humanities , philosophy , art
Este trabalho busca traçar um mapa processual do verbo “lacrar” em português, já que diversos aspectos sócio-históricos fizeram com que fossem acrescidas novas semânticas a esse verbo. Ao se considerar a língua como um sistema complexo, dinâmico e processual por natureza, adota-se uma abordagem multissistêmica (cf. CASTILHO, 2016) para se fazer um estudo pancrônico, em que se vê o dispositivo sociocognitivo (DSC) afetando todos os sistemas linguísticos (discursivo, semântico, lexical, gramatical). A priori, “lacrar”, em seu sentido denotativo, significava apenas o ato de fechar/selar produtos, objetos e lugares, como em: (i) Operação lacra cinco agências. Com o advento das novas tecnologias, “lacrar” passou por um processo de semanticização, fazendo com que, hoje, se possa interpretar esse verbo como sinônimo de “arrasar”/“ir bem em algo”, como pode ser visto em: (ii) Khloé lacrou com look dourado. Por ser um verbo, “lacrar” permaneceu com suas flexões originais. Contudo, o número de ocorrências com a 1a pessoa (singular ou plural) aparenta ser menor do que com a 3a (ele/ela), o que indica um processo de gramaticalização, já que uma das formas se sobressai. Ademais, discute-se o processo de lexicalização no verbo “lacrar”, dado que novas palavras foram surgindo por derivação, como é o caso do substantivo “lacração” e do adjetivo “lacrador(a)”. Por fim, questiona-se ainda o processo de discursivização atuante nessa expressão, já que ela parece ser mais utilizada para encerramento dos turnos e dos discursos, podendo operar, portanto, como um marcador discursivo de encerramento.