
Jair Bolsonaro e os políticos evangélicos
Author(s) -
Ariel Alejandro Goldstein,
Flávio Pereira
Publication year - 2021
Publication title -
em tese
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 1806-5023
DOI - 10.5007/1806-5023.2021.e81371
Subject(s) - humanities , political science , art
Trata-se de uma análise da aliança de um setor dos evangélicos com o governo Bolsonaro, que passa pela formação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Para tanto, volta-se para a década de 1980, quando os evangélicos iniciam sua participação na partidária, apresentando candidatos a deputados. Foram um importante apoio para a candidatura de Fernando Collor de Melo à presidência da república, enquanto os católicos passaram a ser vistos pelos neopentecostais como integrantes de uma "aliança comunista" que apoiavam Lula. A partir de 2003, com a chegada do PT à presidência, estes grupos estabeleceram uma aliança pragmática com o Governo, condicionando o seu apoio ao compromisso da candidata de não impulsionar o aborto e adotar uma posicão consensuada com eles a respeito da homossexualidade. O deputado Eduardo Cunha, eleito em fevereiro de 2015 como presidente da Câmara dos Deputados, promoveu o impeachment da Dilma e foi um membro importante da Frente Parlamentar Evangélica. O desprestígio generalizado da classe política e os devastadores efeitos da crise econômica sobre a vida social, assim como uma formidável crise na segurança pública, as bases populares, que haviam apoiado o Partido dos Trabalhadores (PT) por sus exitosas políticas de transferência de renda como o Bolsa Família, foram migrando rumo a outras opções. Estes aspectos reforçaram o poder dos pastores evangélicos como referências diante da queda dos principais líderes políticos. Como “sociólogos selvagens”, percebendo cotidianamente as angústias populares, os pastores evangélicos foram dos primeiros a reconhecer o potencial eleitoral do ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro. Tanto Michelle Bolsonaro como o presidente constroem uma narrativa religiosa messiânica que entende a presidência, especialmente a partir da facada, como uma missão moral redentora e guiada por Deus. Fortalece-se assim a presença dos evangélicos na cúpula do poder, quando a FPE que havia interagido com o ex-presidente Lula passa a fazê-lo com Bolsonaro, com vistas a implantar a sua própria agenda conservadora. Esta análise também desmente algumas crenças da imprensa e dos setores progressistas sobre a factibilidade de que seja realizado um impeachment de Bolsonaro e de que o ex-capitão do Exercito seja substituído pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Assevera que, ennquanto o presidente continua numa tendência à declinação em sua popularidade, estes setores aumentam proporcionalmente a sua importância para a sustentação do Governo, ganhando espaço e influência.