
Clandestinidade e intolerância
Author(s) -
Sidney Antônio da Silva
Publication year - 1998
Publication title -
travessia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2594-7869
pISSN - 0103-5576
DOI - 10.48213/travessia.i30.614
Subject(s) - humanities , philosophy
A crecente presença de imigrantes vivendo a condição da clandestinidade, seja nos países desenvolvidos, seja naqueles em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, vem colocar a questão de como esses imigrantes, em sua maioria oriundos de países pobres, são vistos pela sociedade local e de como tais imagens escondem outra ordem de questões não explicitadas e perceptíveis pelo senso comum. Na Europa eles são os “ extra-comunitários” , nos Estados Unidos os “ latinos” , ‘ ‘xicanos’ ’, ‘ ‘brasucas” . No Brasil, em âmbito nacional, temos a situação típica dos migrantes internos, particularmente de nordestinos que, chegando no Rio de Janeiro são tidos indistintamente como “ paraíbas” , e em São Paulo como “ baianos” . No caso dos imigrantes, a forma como cada grupo é representado é diferenciada a partir da posição econômica que o país ocupa em relação ao Brasil, bem como a partir de outros fatores de ordem étnico-cultural e racial, os quais acabam tendo também o seu peso. Tal questão veio à tona no mês de julho de 1997, através de uma série de reportagens veiculadas pelos m eios de com unicação(jornais e telejomais), envolvendo um grupo de bolivianos que estariam trabalhando em “ regime escravo ’ ’. Aparte o caráter sensacionalista que tais reportagens assumiram, na verdade, trouxeram à tona uma problemática submersa na realidade brasileira, que é a forma como o Estado brasileiro e setores da sociedade civil vêem e tratam os estrangeiros pouco qualificados oriundos de países mais pobres do que o Brasil. Em nosso contexto eles não são acusados de ser apenas os “ clandestinos” , os “ indocumentados” ou simplesmente os “ ilegais” , mas também de ser possíveis “ traficantes” , agenciadores de mão-deobra “ escrava” , gente de “ pouca cultura’ ’, de pele morena e de origem indígena (Silva, 1977:12). [...]