
A Neve das PalAVRAS
Author(s) -
Maria João Cantinho
Publication year - 2020
Publication title -
albuquerque
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2526-7280
pISSN - 1983-9472
DOI - 10.46401/ajh.2019.v11.9432
Subject(s) - art , humanities
Este artigo quer ler a vida de Paul Pessakh Antschel – nome verdadeiro de Celan. Paul Antschel muda o seu nome de Antschel para o anagrama Celan, que viria a conservar ao longo de toda a sua vida. As leituras de Marx e Nietszche, a par da poesia alemã, sobretudo Hölderlin e Rilke, mas também Goethe e Schiller, Heine, Trakl, Kafka, Hofmannsthal, entre outros, desenvolveram no poeta um gosto pela política e simultaneamente pela literatura. Música e morte entretecem-se, na poesia de Celan, evocando a atmosfera lírica de Schubert – A Morte e a Donzela - ou de Mahler, de Brahms e do Requiem Alemão, numa tentativa de harmonizar a mais dolorosa e insustentável vivência. Celebração, não da morte, mas daqueles que pereceram nos campos de morte, sob as condições mais desumanas que é possível imaginar-se e a dilaceração surge, de forma sublime, no poema “Fuga da Morte”. No poema “A morte é uma flor”, Celan alegoriza a morte através da imagem de uma flor, uma flor que “só abre uma vez”. Trata-se de um mundo de uma beleza terrível, onde os mortos “brotam e florescem”. Morrem para a vida, florescendo para a linguagem poética, a única capaz de resgatar a experiência do horror, pela via da rememoração. Rememorar a experiência vivida deve ser entendido como o gesto que simultaneamente leva a cabo a destruição dos elos orgânicos e, contrariamente, encerra em si uma pretensão redentora, essa a verdadeira finalidade da poesia de Celan.