z-logo
open-access-imgOpen Access
Cartografias marinhas
Author(s) -
Francisco Augusto Canal Freitas
Publication year - 2020
Publication title -
indisciplinar
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2525-3263
DOI - 10.35699/2525-3263.2020.29045
Subject(s) - humanities , art
Uma carta não é apenas uma representação espacial de um território, porquanto cria um território próprio. Mais que indicar pontos fixos no espaço, a carta dá coordenadas para o deslocamento. Antes da era dos satélites orbitais, uma visão exterior da Terra era possível graças à projeção espacial a partir dos astros. Toda cartografia é uma cosmografia. Nas cartas náuticas conhecidas como portulanos, a profusão de linhas que se cruzam em diferentes pontos, por mais aleatórias que pareçam à primeira vista, apontam uma infinidade de caminhos possíveis. Essas cartas, na medida em que multiplicam os pontos de referência e as linhas de rumo, fractalizam o espaço, fazem de cada ponto de partida um ponto de clivagem, transformam o ponto em linha pela velocidade do deslocamento. Com essas cartas, a primeira conquista das Grandes Navegações europeias foi a do mar antes que a da terra: operaram uma territorialização do mar ou “maritorialização” a partir de uma desterritorialização prévia da terra. Da utopia à heterotopia do “Novo Mundo”, a escrita do espaço e do tempo se constrói geopoliticamente. Comparativamente, os habitantes das Ilhas Marshall, na Micronésia, concebem um modo diferente de cartografia marinha: uma microcartografia das intensidades marítimas. Cartografar essas paisagens marinhas é um modo imersivo de criar e habitar territórios incertos. Por fim, este texto mesmo foi pensado como um portulano, cujas linhas de rumo que se cruzam nas circunferências dos parágrafos apontam para infinitos trajetos possíveis.

The content you want is available to Zendy users.

Already have an account? Click here to sign in.
Having issues? You can contact us here