Open Access
O nascimento no Brasil: não dá mais para aceitar o que acontece...
Author(s) -
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler
Publication year - 2014
Publication title -
enfermagem brasil
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2526-9720
pISSN - 1678-2410
DOI - 10.33233/eb.v13i3.3691
Subject(s) - childbirth , pregnancy , genetics , biology
Diferentes aspectos são emergentes em movimentos mundiais quanto ao nascimento, que inclui a gestação, o parto, o período puerperal e os cuidados com o recém-nascido e lactente. Ao longo das últimas décadas, foi ficando cada vez mais forte a crítica ao modelo hegemônico e tecnocrático de atenção ao nascimento e ao parto. Essas críticas são levadas a debates e discussões no meio científico e governamental, organizações não governamentais, movimentos feministas, redes socias via internet, pedindo uma nova forma de atenção ao nascimento.O Brasil tem ficado no bojo das críticas quanto ao modelo de atenção ao nascimento, pelo aumento crescente do número de cesáreas e a excessiva intervenção tecnológica sobre o corpo das mulheres, descritos como fatores responsáveis pelas altas taxas de morbi-mortalidade materno-infantil. De modo geral, discute-se a prática do nascimento humanizado, que preconiza o direito de todas as mulheres de vivenciarem uma maternidade saudável e prazerosa, para ela e para sua família, com um modelo de atenção obstétrica respeitoso à mulher, que passe segurança e que respeitem seu bem-estar, sua intimidade e suas preferências pessoais e culturais.Deste modo, permite-se a participação efetiva e as escolhas de gestantes, parturientes e puérperas, respeitando seus interesses, necessidades e possibilidades terapêuticas no decorrer do ciclo gravídico puerperal. Enfim, deixa destacado o direito do empoderamento e protagonismo das mulheres no processo do nascimento.Especificamente no âmbito do nascimento, tem sido visto ao longo das últimas décadas, nas diferentes partes do mundo, que com a alegação de propiciar maior segurança para mãe e filho, médicos e hospitais tornaram-se os focos centrais na assistência à mulher durante o ciclo gravídico puerperal. Para isso passaram a utilizar várias práticas com a finalidade de intervir, monitorar e controlar o processo do nascimento, provocando profundas alterações na saúde da mulher e do concepto. De um lado este modelo foi determinante para uma queda inicial dos coeficientes de mortalidade materna e perinatal, mas também trouxe consequências como a exclusão de não médicos, em especial do enfermeiro obstetra, além da diminuição da participação efetiva da mulher, enfim, a desumanização no processo do nascimento.O alto grau de medicalização, hospitalização e de abuso de práticas invasivas e de alta tecnologia, nem sempre necessárias, nem sempre igualitárias, resultou em taxas excessivas de cesáreas e em opressão da participação efetiva da mulher no processo do nascimento. Com o passar do tempo foram se acentuando as distorções no atendimento obstétrico, priorizando-se investimentos em procedimentos de alta complexidade em detrimento da qualidade de atenção à mulher. Da mesma forma, tem sido constatado e denunciado o aumento das dificuldades de mulheres de menor poder aquisitivo, identificada na perambulação por maternidades em busca de vagas, gerando polêmicas e discussões sobre o modelo de atendimento que se tornou comum no Brasil.A partir das críticas e questionamentos ao modelo convencional, tecnocrático, medicalizado e hospitalocêntrico de atenção ao nascimento, em diferentes partes do mundo emergiram propostas de intervenção e de modelos holísticos de atenção ao nascimento. Em geral, esses modelos holísticos incluem: incentivo ao parto normal, aleitamento materno no pós-parto imediato, alojamento conjunto mãe-recém-nascido, presença do pai ou acompanhante, atuação de enfermeiro obstetra, de outros profissionais não médicos e modificação das rotinas hospitalares e de comportamento dos profissionais envolvidos nessa assistência.As abordagens direta ou indiretamente relacionadas às diferentes questões e facetas no enfoque de humanizar o nascimento são:que é mais que a garantia de 6 consultas pré-natais e uma vagaem maternidade. Significaoferecer um atendimento centrado na mulher, para que ela possa ter uma experiência positiva e fortalecedora;que deve-se oferecer e disponibilizar, de forma igualitária as tecnologias apropriadas e adequadas a cada caso;que deve haver conscientização e capacitação da equipe obstétrica, no contexto da humanização do nascimento, para que fiquem mais sensíveis à compreensão desse processo, da individualidade da mulher, de sua realidade social e cultural, com mais condições para ouvir, orientar, informar e apoiar as mulheres, familiares e acompanhantes;contribuir para que a mulher tenha uma boa experiência nas diferentes fases do ciclo gravídico-puerperal, apoiando-a para lidar com os desconfortos, o medo, a dor;tornar possível o protagonismo da mulher, permitir-lhe conhecer alternativas, verdades, para fazer escolhas, decidir, perguntar, argumentar, debater, planejar, participar ativamente. Resgatar a posição central da mulher no contexto do nascimento;atender às recomendações da OMS para a maternidade segura e uso de práticas apropriadas ao nascimento, respeitando também os dispositivos legais vigentes neste enfoque;propiciar condições de orientação e capacitação da equipe de saúde para a promoção do aleitamento materno, particularmente de forma exclusiva;propiciar uma formação na área de atendimento obstétrico, em especial de obstetras, neonatologistas, obstetrizes e enfermeiros-obstetras na perspectiva da ação no cuidado humanizado; Nos meus quase 40 anos de formação como obstetriz e enfermeira e minha vinculação ao exercício, ao ensino e à pesquisa, em nível de graduação em e pós-graduação em Enfermagem Obstétrica, considero que é mais que necessário, é essencial, a retomada da profissão e da atuação de obstetrizes e enfermeiros obstetras. Devem atuar na atenção a gestantes, parturientes puérperas, neonatos e lactentes, em ambiente hospitalar e na atenção básica, com trabalho realizado em consonância e de forma compartilhada com obstetras, anestesistas e neonatologistas, respeitando os preceitos éticos e legais e as especificidades de cada profissão. Como está não dá mais para suportar...