
A televisão após a hecatombe
Author(s) -
Arlindo Machado
Publication year - 2011
Publication title -
e- compós
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 1808-2599
DOI - 10.30962/ec.v13i2.484
Subject(s) - humanities , art , philosophy
Uma velha questão, que remonta aos tempos de Adorno, refere-se à possibilidade da televisão vir a ser um espaço de experimentação e criatividade. O programa italiano Cinico TV, de Ciprì e Maresco, dá uma resposta radical a essa pergunta. Sem fazer nenhuma concessão aos padrões institucionais e industriais da televisão, Cinico traz à cena, num preto e branco lúgubre, um mundo que parece o day after de uma hecatombe nuclear, habitado por uma galeria de personagens absurdos, um tanto escatológicos, com um sotaque siciliano e plebeu quase ininteligível, num cenário de ruínas, dejetos e prédios inacabados e abandonados. O programa é concebido como uma intervenção pirata na televisão. O artigo discute a decadência da televisão italiana e a resposta vital que lhe dá Ciprì e Maresco. Cinico TV foi uma demonstração de que a televisão pode ser outra coisa, pode arriscar-se em direção a um audiovisual de insubmissão ao gosto padronizado, um audiovisual de expressão de inquietudes não catalogadas, de modo a provar que há também vida inteligente na tela pequena.