
A promiscuidade entre técnica e ciência em Jean-François Lyotard
Author(s) -
Mariana Ruiz Bertucci Schmitt
Publication year - 2017
Publication title -
pensando
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2178-843X
DOI - 10.26694/pensando.v8i15.5940
Subject(s) - philosophy , humanities
A finalidade do texto seguinte consiste na exposição de uma relação de promiscuidade entre a técnica e a ciência na obra de Jean-François Lyotard. A primeira etapa deste artigo consiste na apresentação de um problema referente à obra A condição pós-moderna (1979), onde a noção de técnica aparece sobre uma perspectiva positivista. Aqui, a intimidade entre técnica e ciência é resultado da crise dos fundamentos das ciências na modernidade, crise oriunda do afastamento entre as ciências e os discursos que se prestavam frequentemente à sua legitimação. Esses discursos, que Lyotard aproxima do modelo narrativo, e dos quais se destacam o discurso político de emancipação e o discurso filosófico especulativo, entram em declínio na condição pós-moderna. As ciências, desprovidas de motivações ou destinos humanistas, não resistem à lógica capitalista, e encontram o intermediário de sua relação com o capital na técnica. O critério da ciência deixa, pouco a pouco, de ser a busca pela verdade e passa a ser a busca pelo melhor desempenho. A segunda e conclusiva etapa do artigo, consiste, por sua vez, na radicalização dessa promiscuidade, e se refere principalmente ao livro O inumano (1987). A assim chamada tecnociência corresponde à completa submissão da ciência à técnica: se a visão positivista de A condição pós-moderna vê na técnica um suplemento, uma prótese que dá assistência à pesquisa científica, no segundo livro, a ciência se mostra a prótese ou o suplemento da técnica, que se revela, não obstante, inumana. Nessa segunda parte do artigo, pretendo mostrar que a visão positivista da técnica não é, portanto, suficiente para compreender a relação promíscua que ela tem com a ciência, mostrando-se necessário o recurso à perspectiva clássica da mesma: é a partir da visão da técnica como produtividade cega da physis que alcançamos também o entendimento do caráter inumano da tecnociência.