Questões sobre a política do "Vivir Bien" na Amazônia indígena

Este ensaio propõe uma solução para o dilema imposto aos povos indígenas quando estes participam da política moderna. Por um lado, as organizações políticas indígenas são criticadas pelo uso de conceitos euro-americanos nas intervenções que realizam especificamente para expor suas demandas políticas. Por outro lado, questiona-se a credibilidade desses mesmos grupos quando suas representações não correspondem às ideias de indianidade dos Estados e das ONG’s. Tendo como base pesquisas etnográficas realizadas entre grupos ashaninka, a sociedade amazônica de maior população, o autor convida para uma análise que olhe para além da política refratada nos discursos indigenistas propostos pelos Estados e pelas ONG’s, e que dê conta de analisar as práticas políticas que são invisíveis a essas críticas: as práticas cotidianas do kametsa asaiki (‘viver bem’), centrais para o processo de criação dos seres humanos ashaninka. O autor conclui que, mesmo que a natureza política do kametsa asaiki seja invisível para o Estado e para as ONG’s, ela ainda tem efeitos importantes que, esses sim, são visíveis.