
Espectro funcional de bem e bom no português falado: instâncias de gramaticalização
Author(s) -
Edair Maria Görski
Publication year - 2020
Publication title -
abralin
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 0102-7158
DOI - 10.25189/rabralin.v19i3.1710
Subject(s) - humanities , adverbial , philosophy , linguistics
Numa abordagem funcionalista de gramática (cf. GIVÓN, 2001; 2018), o trabalho objetiva (i) apresentar uma descrição qualitativa e quantitativa do leque de funções desempenhadas por bem e bom, considerando tanto o estatuto gramatical prototípico de advérbio e adjetivo, respectivamente, quanto os usos discursivos como marcadores e outros possíveis usos, a partir do exame de situações dialógicas em 72 entrevistas sociolinguísticas (Projeto VARSUL); (ii) tratar comparativamente os usos discursivos, buscando padrões contextuais de comportamento; e (iii) analisar as mudanças envolvidas como instâncias de gramaticalização (cf. HIMMELMANN, 2004; TRAUGOTT, 2010a; DIEWALD (2011b). Entre os resultados destacam-se: (i) em termos frequenciais, o uso de bem adverbial é significativamente maior que o uso de bom adjetival; como marcador discursivo, bom é largamente mais usado que bem; e em outros usos, bem supera bom, apresentando um comportamento mais polissêmico; (ii) como marcadores discursivos, os itens compartilham uma propriedade geral textual/interpessoal e sinalizam um duplo movimento (de estruturação discursiva e de negociação), com presença significativa encabeçando respostas imediatas, mas apresentam especificidades contextuais de uso: enquanto bom predomina em abertura de turno, particularmente introduzindo preâmbulo, bem prevalece em posições intraturno, em contextos de organização tópica, especialmente de sequenciação e retomada do fluxo discursivo, incidindo sobre a fala do próprio informante; (iii) os marcadores apresentam padrões contextuais distintos na fala do informante e na fala do entrevistador. Conclui-se que o funcionamento dos itens é dependente do tipo de situação comunicativa e aponta-se a necessidade de as análises considerarem os gêneros textuais/ discursivos e suas particularidades, especialmente em estudos comparativos.