
Da ferida linguística à ressignificação discursiva
Author(s) -
Júlia Lourenço
Publication year - 2021
Publication title -
cadernos de linguística
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2675-4916
DOI - 10.25189/2675-4916.2021.v2.n1.id355
Subject(s) - humanities , philosophy
Neste artigo, teceremos uma breve reflexão sobre como o conceito de ressignificação (PAVEAU, 2019; 2019a), calcado na Análise do discurso francesa, pode ser profícuo na compreensão de alguns aspectos do contexto político atual do Brasil, sobretudo relacionados à temática ampla do papel da mulher na sociedade e seu intrínseco laço com movimentos feministas digitais. Compreendemos que o ato de ressignificar está relacionado à inversão dos valores de formas específicas usadas para designar sujeitos, atos estes que podem ser percebidos como agressão, ofensa ou ferida linguística. A ressignificação é marcada por uma forte dimensão política, que se refere à possibilidade de resposta discursiva, de reafirmação de práticas de empoderamento (BERTH, 2018) e ao poder de ação (BUTLER, 2003) do sujeito ofendido e, afinal, da comunidade à qual eles/elas pertencem. Para este artigo analisamos a polêmica e consequente censura - por parte do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, do atual governo - de um livro infantil que abordava a temática das bruxas de forma lúdica, conforme o gênero literário no qual está inserido. Segundo a ministra da pasta, este material foi considerado demasiado subversivo, sobretudo em relação ao papel da mulher. Decorre deste fato a importância dos feminismos no Brasil atual, aqui analisado pontualmente a partir do processo de ressignificação do lexema bruxa.