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O dinheiro e o espaço da cidade: reflexões a partir da etnografia da Avenida Luís Guaranha, Porto Alegre-RS
Author(s) -
Olavo Ramalho Marques
Publication year - 2005
Publication title -
iluminuras
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 1984-1191
DOI - 10.22456/1984-1191.9208
Subject(s) - humanities , philosophy
Ruben Oliven, em seu artigo intitulado “De olho no dinheiro nos Estados Unidos” (2001), afirma que, preocupado com a amplitude do tema dinheiro em relação à sociedade norte-americana, notou que tudo no referido país girava em torno do dinheiro. Por essa razão o percebeu como fato social total, resgatando a clássica definição de Marcel Mauss. Do mesmo modo, eu, desafiado a lidar com esta temática em minha área de interesse na antropologia (a questão da ocupação e transformação do espaço urbano, em sua diversidade inerente), percebi também que abordar a dimensão espacial da cidade implica necessariamente em uma atenção especial à questão do dinheiro. Veja-se o acesso diferencial aos territórios urbanos a partir do poder aquisitivo de indivíduos e coletividades, as regiões diversamente valorizadas economicamente, bem como em termos de estilos e condições de vida - o fato de populações diferenciadas terem legitimidade e condições de habitar e ocupar os diferentes nichos sociais da cidade a partir de suas capacidades econômicas, suas formas de comportamento e identidade exterior (GOFFMAN, 1963).   Para Simmel (1991), bem como para Harvey (1989) o dinheiro é força social que permeia tudo em nossa sociedade, apesar de a aparente liberdade fazer com que a onipresença do dinheiro e as formas de dominação em que implica tornarem-se ocultas, não evidentes. Pretende-se com o presente estudo, a partir do que foi exposto, abordar o tema do dinheiro em sua dimensão atrelada às esferas de espaço e tempo na metrópole, tal como nos propõe Harvey, em relação à cidade de Porto Alegre - palco de minhas investigações etnográficas. A questão central que aqui se coloca é: como age o dinheiro – ou como ele se interpõe, enquanto força social - sobre as formas de organização do espaço urbano? Tal questão emerge de minhas incursões etnográficas no campo da antropologia urbana, em que me deparei com a realidade social e cultural de uma comunidade específica na cidade de Porto Alegre/RS: a vila Luís Guaranha, bairro Cidade Baixa.   Por que o contato com tal comunidade suscita um estudo em relação ao tema proposto? Trata-se de uma comunidade pobre, majoritariamente negra, cuja estrutura espacial revela aspectos bastante interessantes acerca das formas de habitação popular em Porto Alegre (incluindo-se o aspecto envolvendo a noção de propriedade privada e as casas de aluguel), em sua dimensão temporal. A comunidade se reconhece como reminiscência viva do Areal da Baronesa, antigo reduto de populações pobres e afro-descendentes – em grande parte ex-escravos – que foi sendo paulatinamente descaracterizado de suas feições originais durante o século XX (com mais intensidade a partir da segunda metade do século, principalmente na década de 70). Os moradores da Luís Guaranha enfatizam, em sua estrutura comunitária, o fator de resistência a todo um processo de remodelação da região da cidade que ocupam.

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