
DE DOROTHY STANG A MARIELLE FRANCO
Author(s) -
Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth,
Joice Graciele Nielsson,
Anna Paula Bagetti Zeifert
Publication year - 2021
Publication title -
culturas jurídicas
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2359-5744
DOI - 10.22409/rcj.v6i14.590
Subject(s) - humanities , philosophy , art
O presente artigo analisa a situação de violência praticada contra defensores dos direitos humanos no Brasil a partir de dois casos emblemáticos: os assassinatos da missionária norte-americana Dorothy Mae Stang e da vereadora carioca Marielle Franco. Pretende, a partir da utilização do método fenomenológico, realizar uma aproximação entre as obras de Emmanuel Levinas e Giorgio Agamben, de modo a ressignificar os assassinatos das duas defensoras de direitos humanos. O problema que orienta a investigação pode ser assim sintetizado: em que medida o assassinato, na perspectiva de Levinas, representa a completa anulação do outro pelo fato da violência, ao passo que, na perspectiva de Agamben, representa, na medida em que impune, o ápice do processo de contínuas cesuras que redunda na produção da vida nua (homo sacer)? Parte-se da hipótese de que a morte de Dorothy Stang representa, no contexto de lutas pelo direito à terra no Brasil, uma total falta de responsabilidade pelo outro, configurando uma ‘injustiça celebrada”, de acordo com Levinas; já a morte de Marielle Franco, diante da sua representatividade no movimento pela igualdade racial e de gênero, representa a consolidação de um processo de cesuras biopolíticas entre zoé e bios, ou seja, entre vidas politicamente qualificadas e vidas impunemente elimináveis, que caracteriza a dimensão biopolítica com que historicamente se estrutura a sociedade brasileira, alicerçada em uma rígida hierarquização social.