
MAL-ESTAR, VIOLÊNCIA E OUTRAS PALINÓDIAS DA CONSCIÊNCIA N’OS MAIAS, DE EÇA DE QUEIRÓS
Author(s) -
Sílvio Cesar dos Santos Alves,
Alan Diogo Capelari
Publication year - 2020
Publication title -
pragmatizes
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2237-1508
DOI - 10.22409/pragmatizes.v10i18.40277
Subject(s) - philosophy , humanities
A metodologia utilizada neste trabalho foi o comparatismo, especialmente a sua vertente fundada no diálogo da literatura com outros campos do saber, e, sobretudo, “o estudo da literatura em suas intersecções com a filosofia”, que aqui é utilizada “como paradigma teórico”. Sem se subestimar “as possibilidades oferecidas ao pensamento filosófico pela literatura” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 6), e “conjugando filosofia e literatura de tal modo que conteúdo filosófico e forma literária tornam-se indissociáveis” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 6-7) – pois “a ficcionalidade da teoria e a força teórica da ficção criam uma porosidade entre os campos da literatura e da filosofia” –, buscou-se, em termos gerais, “a subversão das fronteiras tradicionalmente estabelecidas entre conteúdo filosófico e conteúdo literário”, bem como o “escrutínio das múltiplas articulações entre literatura e filosofia, em virtude do caráter polimorfo de seus signos” (ALVES; CEI; DIOGO; 2018, p. 7). Em termos específicos, propusemos o atrito, a fricção, a contaminação entre o pensamento dos dois maiores teóricos da cultura do século XIX, Friedrich Nietzsche – tendo em vista a sua Genealogia da moral (1887) – e Sigmund Freud – com foco em seu Mal-estar na Cultura (1930) –, e a obra-prima ficcional do escritor português Eça de Queirós, o romance Os Maias (1888). Esse romance possui, em sua composição, vasto repositório de temas, questionamentos e reflexões que, além de abarcarem todo o longo século XIX, fazem com que a obra permaneça até a contemporaneidade como objeto de atenção de leitores e pesquisadores. No presente trabalho, analisaremos, de forma mais específica, as implicações sociais presentes no desenlace da relação amorosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda; os conflitos da consciência moral de Carlos, em meio à descoberta de que vivia um amor proibido; e a violência resultante de tais conflitos, seja aquela direcionada contra o próprio sujeito, seja a que se dirige contra os outros. Além disso, também será dada atenção à crítica social que é uma marca de Eça. O que se percebe é uma sociedade astuta no trato de questões que podem comprometer a imagem do sujeito dito civilizado. Nota-se, também, que a relação entre civilização e civilidade se mostra de forma complexa, e muitas vezes, nessa obra, as regras de convivência, ditas civilizadas, utilizam métodos que remetem à barbárie.