
Corpos invisíveis em Julio Cortázar: o não humano na esfera do matável
Author(s) -
Hiandro Bastos da Silva,
Lauro Roberto do Carmo Figueira
Publication year - 2021
Publication title -
cadernos de letras da uff
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2447-4207
pISSN - 1413-053X
DOI - 10.22409/cadletrasuff.v32i63.51050
Subject(s) - philosophy , humanities , art
O presente estudo visa dar enfoque aos corpos invisíveis à ordem jurídica na escrita de Julio Cortázar a partir da leitura do conto Carta a uma senhorita em Paris (1951). Com base nas discussões de Giorgio Agamben acerca do homo sacer – figura do direito romano arcaico insacrificável e, ao mesmo tempo, matável –, procura-se analisar na narrativa de Cortázar o modo como o não humano, assim classificado pela “máquina antropológica” (AGAMBEN, 2007, p. 51), adentra na esfera da matabilidade. Dessa forma, o homem recai no mesmo grau de vulnerabilidade do animal, desmantelando as fronteiras éticas existentes entre ambos, atestadas por Jacques Derrida (2002). Por consequência, compreende-se, com Gabriel Giorgi (2016), que a vida reconhecida como humana se torna cada vez mais difícil de aferir na atualidade. Assim, além de se averiguar na narrativa do prosador Cortázar as políticas do contemporâneo atravessarem o corpo e a subjetividade do protagonista, subtraindo o seu valor, evidencia-se o animal demarcando o limiar desta realidade de exceção, onde a vida se faz matável.