
Cristalizações de memórias alheias: a guerra colonial na escrita da pós-memória de Paulo Faria
Author(s) -
Felipe Cammaert
Publication year - 2021
Publication title -
abril
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 1984-2090
DOI - 10.22409/abriluff.v13i27.50684
Subject(s) - humanities , art
Na escrita de Paulo Faria, a apropriação das memórias alheias da guerra colonial portuguesa em África materializa-se em dois âmbitos complementares e, contudo, autónomos. Por um lado, o ponto de partida da escrita ficcional de Faria é a cristalização, na escrita e pela escrita, da memória do pai sobre a experiência colonial. Desde a perspetiva do filho, esta depuração da memória é representada em termos de uma guerra através da escrita, no intuito de reviver a experiência traumática do pai. Por outro, no processo de constituição da pós-memória, a visão do herdeiro é composta igualmente pelas narrativas das testemunhas diretas da guerra colonial, nomeadamente as dos militares que estiveram em Moçambique com o pai. Porém, nesse processo de construção de uma pós-memória pelo filho, acontece que, em ocasi.es, estas testemunhas interrogam a visão do descendente quando transformada em ficção. Ora, a resposta de Faria vai precisamente no sentido de insistir no caráter ficcional – e, sobretudo, mediado – da sua escrita, que sempre tem em conta o facto de se tratar apenas de uma memória de segunda mão.