Reparar nas coisas: de repente algo acontece e somos outro

O presente texto pretende partilhar algumas reflexões sobre o ato de pensar e escrever presente nas práticas acadêmicas atuais, que, na maioria das vezes, resultam em textos que operam uma quantidade enorme de informação e de citações, e, no entanto, a voz daquele que pensa e escreve encontra-se ausente. É como se pensar-escrever seguisse um protocolo do bom uso de citações de autores recomendados sem que com elas a escritura se deixasse contagiar. O texto, no seu decorrer, vai afirmando exatamente o contrário disso: antes de mais nada, pensa-se implicado nas questões que se adensam no campo político e social e que nos perturbam de tal modo que é impossível não se interrogar sobre o que está nos acontecendo. O tom ensaístico adotado me pareceu oportuno pois se empenha muito mais em propor questões, sugerir caminhos e partilhá-los, do que evocar alguma certeza definitiva sobre o que narra. Além do mais, encoraja desvios no modo de produção da escritura, na medida em que acompanha o pensamento acontecendo. O que, decerto, não evita o risco de contradições e inacabamentos.