A influência dos procedimentos não neurocirúrgicos e suas complicações no resultado do tratamento do traumatizado craniencefálico grave

Durante o período de seis meses (janeiro a julho de 1991), 66 pacientes portadores de traumatismo craniencefálico (TCE) grave (graduados na Escala de Coma de Glasgow em igual ou menor que 9) foram analisados de forma prospectiva quanto aos procedimentos a que foram submetidos du¬rante o tratamento e as complicações resultantes destes procedimentos. Os procedimentos realizados mais frequentemente foram: a venóclise em 100%, a sondagem vesical em 96%, a entubação orotraqueal em 92%, o uso do respirador mecânico em 89%, a traqueostomia em 83% e a sondagem nasogástrica em 75% dos pacientes. As complicações que envolveram o aparelho respiratório foram as mais frequentes: na fase precoce, a obstrução do tubo orotraqueal ocorreu em 78,69% e a infecção pulmonar em 67,27%; na fase tardia, a estenose subglótica foi diagnosticada em 56,5% dos casos sobreviventes. Complicações, em geral, relacionadas com estes procedimentos, ocorreram em 72,73% dos pacientes internados nas enfermarias convencionais e em 27,27% dos internados na terapia intensiva (x2 = 11, p < 0,0008). A taxa de óbito desses pacientes nas enfermarias convencionais foi de 62,50%, enquanto que, na terapia intensiva, de 16,57% (x2 = 11, P < 0,0009). Sabemos que existem vários outros fatores que influenciam a evolução, mas a forte correlação entre os índices de complicações e óbitos, tanto nas enfermarias como na terapia intensiva, sugerem que a taxa de complicações também influenciou o resultado do tratamento do traumatizado craniencefálico grave.