
A economia moral do turismo
Author(s) -
Dean MacCannell
Publication year - 2020
Publication title -
revista lusófona de estudos culturais
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2184-0458
pISSN - 2183-0886
DOI - 10.21814/rlec.2211
Subject(s) - humanities , de facto , political science , art , law
Neste artigo, sugiro que a indústria do turismo mundial está mobilizada em torno de um
núcleo, a atração turística, que está afastada e protegida do intercâmbio económico. Se o turismo
é, de facto, a maior indústria do mundo, é por causa e não a despeito da separação da sua
principal estrutura motivacional e moral do mercado. Aqui exploro as implicações do facto de
que o sistema global de atrações turísticas é uma enorme coleção de “bens gratuitos” democráticos,
abertos e disponíveis para todos verem. A indústria do turismo depende desta oferta interminável
de atrações de livre acesso, mantidas por governos, ONG e/ou simplesmente existentes
na sociedade e na natureza. A indústria do turismo mundial só pode prosperar se a sua estrutura
moral e motivacional permanecer isolada das transações do mercado. O Taj Mahal, a Torre Eiffel,
o Partenon, o Grand Canyon, a Estátua da Liberdade, as Montanhas Karakorum, etc., não estão
à venda. Mais de mil milhões de turistas gastam 1,5 biliões de dólares por ano para viajar internacionalmente
e ver coisas que não podem comprar ou ter no sentido material; que ninguém,
por mais rico que seja, pode comprar; que muitas vezes nem conseguem tocar. A enormidade
do turismo hoje é possível apenas porque as forças causais que estão no coração da economia
do turismo são inteiramente imaginárias e simbólicas. Na sua essência, a economia turística é
menos económica do que fenomenológica. E o principal impulso do turismo, a sua motivação
mais profunda, não é materialista, mas democrática. O overtourism (excesso de turismo) resulta
da própria indústria que explora agressivamente o facto de que não implica matérias-primas, não
necessita de desenvolver cadeias de fornecimento, não precisa de fábricas e não se envolve em
qualquer conceção, fabrico, montagem ou distribuição. O consumidor trabalha de graça, na realidade,
paga para fazer o trabalho do turismo e torna-se o produto. Estas eficiências neoliberais
levam ao overtourism. O overtourism pode ser facilmente controlado ao nível local.