
“Somos como o mato que brota ano após ano: intermináveis” – aberturas e considerações dialógicas acerca da Autonomia Indígena Originária Camponesa (AIOC) de Raqaypampa
Author(s) -
Maurício Hashizume
Publication year - 2022
Publication title -
revista tellus/tellus
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2359-1943
pISSN - 1519-9452
DOI - 10.20435/tellus.v21i46.793
Subject(s) - humanities , political science , philosophy
As autonomias indígenas originárias camponesas (AIOCs) chamam atenção como projetos políticos reivindicados por povos e comunidades que, no contexto boliviano, instituíram meios e procedimentos próprios de tomada coletiva de decisões e de gestão partilhada das vidas. Ocorre que, para uma compreensão mais completa e assentada dessas iniciativas autonômicas – as quais ganharam impulso principalmente a partir da Assembleia Constituinte iniciada com a chegada do Movimento Ao Socialismo (MAS) à presidência em 2006, da Constituição Política do Estado (CPE) promulgada em 2009 e da Lei Marco de Autonomias e Descentralização (LMAD) de 2010 –, fazem-se oportunas e necessárias não apenas leituras históricas e historiográficas acerca dos imaginários, percursos e escolhas políticas indígenas na região, como também dos profundos e multifacetados prismas, legados e violências coloniais que compõem até hoje quadros institucionais oficiais e não-oficiais. Daí as aberturas e considerações propiciadas pela formação do Governo Autônomo Indígena Originário Camponês (GAIOC) de Raqaypampa, o primeiro a ter sido constituído exclusivamente a partir de um território (e não de uma prévia jurisdição municipal, como nos outros casos também já consolidados de Charagua Iyambae, no Departamento de Santa Cruz, e Uru Chipaya, em Oruro). A partir de um recorte de pesquisa acerca das lutas indígenas do povo Quechua (Chuwi) em Raqaypampa, em Cochabamba, apresenta-se um quadro em diálogo com linhas e reflexões em torno da “cosmopolítica indígena” (DE LA CADENA, 2010) que, mais do que “corrigir falhas dentro da política já existente”, sinaliza para uma “política pluriversal” pela via de possíveis relações contraditórias entre mundos.