
O ‘trabalho dobrado do livro: sobre o jornal Dobrabil, de Glauco Mattoso
Author(s) -
Gustavo Scudeller
Publication year - 2017
Publication title -
remate de males
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2316-5758
pISSN - 0103-183X
DOI - 10.20396/remate.v37i1.8647524
Subject(s) - humanities , art , philosophy
Entre 1977 e 1981, Glauco Mattoso (codinome literário de Pedro José Ferreira da Silva) levou a cabo uma das mais inusitadas experiências com a poesia e a prosa visuais já realizadas na literatura brasileira, ao escrever e distribuir, via correio, o seu Jornal Dobrabil. Inicialmente concebidos para serem lidos numa só folha de papel A4, batida à máquina em frente e verso, xerocopiada e dobrada ao meio, com tiragem e ordem irregulares, os fascículos do jornal foram reunidos pela primeira vez em livro ainda em 1981, e reeditados, em 2001, pela Editora Iluminuras. Essa passagem do jornal ao livro conjunta e inversamente à passagem do artesanato poético para a edição impressa na obra de Glauco Mattoso é a questão que mais imediatamente nos interessa aqui. Partindo da hipótese de que, sendo uma espécie de work in progress, o jornal já presumiria em sua concepção geral uma ideia de livro, procuraremos demonstrar como essa ideia remonta a uma tradição moderna de reflexão poética sobre as relações entre o livro e a imprensa e como essa tradição funda a própria ideia de jornal no panfleto poético-literário de Glauco. Neste caso, privilegiaremos a linhagem franco-brasileira dessa tradição, da qual Mallarmé, na França, e Haroldo de Campos, um dos maiores divulgadores de sua obra no Brasil, são dois nomes cruciais.