
VERDADE E FLECHAS NA RETÓRICA E NA ESTÉTICA DOS ANTIGOS PERSAS
Author(s) -
Эдриси Фернандес
Publication year - 2015
Publication title -
revista de estética e semiótica
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2238-362X
DOI - 10.18830/issn2238-362x.v5.n2.2015.07
Subject(s) - humanities , philosophy
Friedrich Nietzsche foi um filólogo e filósofo saxão que estudou muito a retórica dos antigos, e algumas de suas anotações (de 1872?) são conhecidas como Curso de Retórica. Em sua obra mais importante, Assim Falava Zaratustra (1885), por meio de seu personagem-título, Nietzsche dá voz a um profeta persa redivivo, que em certa passagem afirma: “'Dizer a verdade e saber manejar bem o arco e as flechas' - Isso parecia caro, ao mesmo tempo que difícil, para o povo donde vem o meu nome”. A afirmação de Zaratustra, ecoada por Nietzsche, fundamenta-se em Heródoto (Histórias, I.136), que disse que os persas ensinavam aos seus filhos apenas três preceitos: cavalgar, manejar o arco e flecha e dizer a verdade. Estudamos o Avesta (o livro mais sagrado do zoroastrismo), alguns textos da época Aquemênida, escritos em persa antigo (veteropersa), bem como algumas representações icônicas Aquemênidas, com a intenção de mostrar aquilo que os mesmos podem nos ensinar sobre a associação entre a verdade e as flechas na retórica e na estética dos antigos persas, devotos do deus Ahura-Mazdâ. Uma passagem do Avesta (com seu estrato mais antigo escrito numa língua iraniana oriental, o “avéstico”) vincula diretamente a verdade e as flechas quando elogia o (mítico) rei Vishtâspa, patrono de Zaratustra, como sendo “aquele que com arco e flecha procurou espaço para a Verdade, que com arco e flecha encontrou espaço para a Verdade, que concordou em ser o braço e o suporte da religião de Ahura [-Mazdâ], de Zaratustra” [Zam (Zamyâd) Yasht do Khorda (Pequeno) Avesta, 85 (Yasht, 19.85)]. Nesta investigação, analisamos o lugar privilegiado do conceito de Asha (“Verdade/Retidão/Ordem”) na religião zoroastriana e o emprego ideológico, retórico e estético de associações com esse conceito promovidas pelos soberanos Aquemênidas, e revisamos algumas passagens veteropersas e de Heródoto onde o antigo ato persa de disparar flechas tem vinculação com sua retórica.