
Tradução comentada de uma crônica de Machado de Assis para o espanhol: entre a letra e a literalidade
Author(s) -
Pablo Cardellino Soto
Publication year - 2018
Publication title -
revista da anpoll
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 1982-7830
pISSN - 1414-7564
DOI - 10.18309/anp.v1i44.1164
Subject(s) - humanities , philosophy , literal (mathematical logic) , chemistry , linguistics
Neste artigo, uma tradução comentada, abordo um exemplo de tradução literária do português para o espanhol a fim de discutir algumas questões que se apresentam à atividade em razão da proximidade das línguas. O corpus é constituído pela crônica publicada por Machado de Assis n’O Cruzeiro, em junho de 1878. A partir do postulado de que as decisões tradutórias não são necessariamente coerentes, em todos os casos, com a estratégia adotada, analiso a dicotomia letra-sentido através da exploração das margens entre o conceito bermaniano de letra e o conceito de tradução literal do senso comum. As situações extraídas da tradução do corpus começam informando momentos em que a proximidade entre as línguas torna possíveis decisões coincidentes para projetos de tradução literal e da letra. Colocações e idiomatismos são consultados como caso particular em que é possível perceber a tensão entre ambas as estratégias. O perfil colocacional, entendido como atributo importante da letra, é usado para mostrar como uma tradução literal pode se afastar de uma estratégia de tradução da letra, o que nos exemplos abordados acontece tanto em razão de mudanças de registro quanto pela ação das tendências deformantes bermanianas. A seguir se mostra o caso de um ganho na tradução da letra usando expressão idiomática em espanhol para traduzir uma expressão idiomática em português, contrariando, em certo sentido, o posicionamento de Berman a respeito. A agramaticalidade também acontece às vezes nas opções literais, mesmo num par de línguas próximas como são o português e o espanhol, e sobre isso se oferece um exemplo. Na conclusão tenta-se pôr os pensamentos de Schleiermacher (2000), Ortega y Gasset (1957) e Berman (2013) numa perspectiva histórica para defender que a proposta de tradução da letra é compatível com a norma tradutória hegemônica no Brasil.