
“A máquina do mundo” em 3D: Drummond, leitor de W.H. Auden / “A máquina do mundo” in 3D: Drummond, reader of W.H. Auden
Author(s) -
Cléber Ranieri Ribas de Almeida
Publication year - 2021
Publication title -
o eixo e a roda
Language(s) - English
Resource type - Journals
eISSN - 2358-9787
pISSN - 0102-4809
DOI - 10.17851/2358-9787.30.2.6-25
Subject(s) - art , poetry , humanities , philosophy , literature
Resumo: O poema “A Máquina do Mundo” de Carlos Drummond de Andrade é interpretado pela crítica, no que diz respeito ao uso de intertextos, como um poema marcado pelo diálogo subliminar com a Divina Comédia de Dante Alighieri e com Os Lusíadas de Luís de Camões. Em contraposição a esta reiterada interpretação do poema, tentaremos demonstrar a hipótese segundo a qual o cenário de “A Máquina do Mundo” foi construído e imaginado a partir de uma releitura do cenário do poema “As I Walked Out One Evening”, do poeta inglês Wystan Hugh Auden. Drummond fez uma adaptação cenográfica do poema de W.H. Auden. As semelhanças entre os cenários são evidentes no uso dos seguintes expedientes: (a) o cenário de abertura do poema de Auden (no qual um andarilho caminha por uma estrada ou rua e se depara com uma visão maquinal e epifânica) é reutilizado por Drummond; (b) a atmosfera sombria e quase noturna da hora das Vésperas, acompanhada do badalar dos sinos da igreja ou do toque dos relógios, é comum em ambos os poemas; (c) a estrutura dialogal das máquinas que falam e desvelam mistérios é comum aos dois textos; (d) a narrativa escatológica do desfecho dos poemas é, também, muito similar. Concluímos que a semelhança entre os cenários dos dois poemas torna evidente as diferenças entre a perspectiva cristã do poema de W.H. Auden e a perspectiva absurdista do poema de Drummond.Palavras-Chave: A máquina do mundo; Carlos Drummond de Andrade; W.H. Auden; As I Walked Out One Evening.Abstract: Critics interpret the poem “A Máquina do Mundo,” by Carlos Drummond de Andrade, in regard to its use of intertextuality, as a poem marked by a subliminal dialogue with Dante Alighieri’s Divine Comedy and with Luís de Camões’s Os Lusíadas. In contrast to this repeated interpretation of the poem, I will try to demonstrate the hypothesis that the scenario of “A Máquina do Mundo” was built and imagined from a re-reading of the scenario of the poem “As I Walked Out One Evening,” by Wystan Hugh Auden. Drummond made a scenographic adaptation of the poem by W. H. Auden. The similarities between the scenarios are evident by use of the following devices: (a) the opening setting of Auden’s poem (in which a wanderer walks along a street and is faced with a mechanical and epiphanic vision) is reused by Drummond; (b) the dark and almost nocturnal atmosphere of Vespers, accompanied by the ringing of church bells or the chiming of clocks, is common to both poems; (c) the dialogical structure of the machines that speak and reveal mysteries is common to both texts; (d) the eschatological narrative at the denouement of the poems is also very similar. I conclude that the similarity between the scenarios of the two poems makes evident the differences between the Christian perspective of W.H. Auden’s poem and the absurdist perspective of Drummond’s poem.Keywords: A máquina do mundo; Carlos Drummond de Andrade; W.H. Auden; As I Walked Out One Evening.