
O espaço do fantástico como leitor das diferenças sociais: uma leitura de “O homem cuja orelha cresceu”
Author(s) -
Marisa Martins Gama Khalil
Publication year - 2008
Publication title -
o eixo e a roda
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2358-9787
pISSN - 0102-4809
DOI - 10.17851/2358-9787.17.0.89-102
Subject(s) - humanities , philosophy , art
O conto “O homem cuja orelha cresceu”, de Ignácio de LoyolaBrandão, será analisado por intermédio de uma perspectiva que terá por objetivo demonstrar que a narrativa fantástica pode se abrir como espaço de crítica social, ainda que ela trabalhe com situações que fogem às práticas cotidianas. A direção transgressora e desestabilizadora da ambientaçãofantástica, que desencadeia no leitor a hesitação, permite que a literatura fantástica, ao enredar o inexplicável, promova a reflexão sobre acontecimentos cotidianos e explicáveis. Ao trabalhar com um protagonista cuja orelha crescecontínua e assustadoramente, a narrativa expõe a problemática do “mesmo” em contraposição ao “diferente”. As diferenças corporais configuram-se, no conto e na sociedade, como deformações, monstruosidades; o que foge à regradeve imediatamente realinhar-se a ela ou ser exterminado, como se sugere no final do conto. Para ampararmos nosso enfoque, partiremos das noções de Michel Foucault sobre práticas de subjetivação; de Gilles Deleuze e FélixGuattari acerca do liso e do estriado; de Umberto Eco sobre a feiúra e sobre o sublime; de Roland Barthes sobre mimese; e de Seligmann-Silva e de Beatriz Sarlo acerca da exposição dos traumas e tragédias humanas pela palavra metamorfoseada da literatura.