
Compressão do espaço-tempo e hiperlocalização: os novos flâneurs
Author(s) -
Ivone Neiva Santos,
José Azevedo
Publication year - 2019
Publication title -
comunicação e sociedade
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2183-3575
pISSN - 1645-2089
DOI - 10.17231/comsoc.35(2019).3141
Subject(s) - humanities , physics , philosophy , art
A experiência de sensações tais como a de aceleração do tempo ou de eliminação do espaço vulgarizou-se na vida moderna cada vez mais organizada segundo o ritmo do “tempo real”, instituído pelos média digitais. Neste artigo, partindo do conceito de compressão espaço-tempo de Harvey (1999), confrontamos perspetivas situadas nas correntes do determinismo tecnológico com outras que defendem a relação dialógica entre tecnologia e sociedade. Abordam-se noções como as de desterritorialização e destemporalização que permitem compreender o surgimento de um espaço de dados fragmentado e intemporal, correspondendo a uma “nova geografia”, na qual já não é possível estabelecer uma fronteira clara entre o mundo físico e o digital. O texto estrutura-se tendo como suporte teórico o conceito de flâneur ciberespacial, explorando as semelhanças com o flâneur novecentista, tal como descrito por Baudelaire. A análise de um conjunto de intervenções artísticas e experimentais centradas sobre questões como a hiperlocalização ou a ubiquidade e a pervasividade permite-nos recorrer a esta figura do flâneur ciberespacial num duplo sentido, como sinal da tendência para a aceleração técnica, mas também como símbolo da força de resistência a essa mesma aceleração. Conclui-se que a evolução exponencial e a crescente “naturalização” da tecnologia nos obrigam a considerar o seu papel determinante nas dinâmicas sociais, designadamente, a partir da transformação da nossa relação com as dimensões do espaço e do tempo.