
Naturalização da dominação e poder legítimo na teoria política clássica
Author(s) -
Éléni Varikas
Publication year - 2003
Publication title -
revista estudos feministas
Language(s) - English
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.304
H-Index - 16
eISSN - 1806-9584
pISSN - 0104-026X
DOI - 10.1590/s0104-026x2003000100010
Subject(s) - philosophy , humanities
A reflexão aqui desenvolvida aborda uma das maiores antinomias políticas do pensamento político moderno: aquela que consiste em fazer da comunidade política um artifício humano, fundamentando-a, ao mesmo tempo, em bases pré-políticas, anteriores à ação humana. Ao reinventar o político como espaço de liberdade, os modernos reinventaram o natural como limite dessa liberdade humana que a religião já não estava em condições de conter. Nesse contexto, a caça às bruxas decorre tanto de um obscurantismo religioso ou supersticioso quanto de uma iniciativa racional fundada na eficácia. As implicações políticas do politeísmo cognitivo, que explode na pluralidade das percepções científicas da natureza humana e da natureza das coisas, estabelecem um estreito laço entre a constituição da autoridade da "ciência" moderna, como modelo de conhecimento da natureza, e a constituição da autoridade religiosa e temporal. A naturalização da hierarquia dos sexos no mundo moderno é, ao mesmo tempo, o arquétipo e o sintoma desse processo histórico que desloca a legitimação da dominação do âmbito religioso para o da natureza. The reflection developed here deals with one of the greatest political paradoxes of modern political thought: the turning of a political community into a human artifact while basing it on premisses which are pre-political and therefore precede human action. As it reinvented the political as a free space, modernity reinvented the natural as a limit to this human freedom which religion could no longer contain. In such a context, the witch-hunt is a result both of a religious or superstitious obscurantism and of a rational enterprise based on efficacy. The political implications of cognitive polytheism, which explode in the plurality of scientific perceptions on human nature and on the nature of things, establish a close connection between the authority of modern "science" as a model for the knowledge of nature and that of a religious and temporal kind. The naturalization of the sexual hierarchy in the modern world is at the same time the archetype and the manifestation of this historical process which dislocates the legitimation of domination from the religious to the natural realm