z-logo
open-access-imgOpen Access
A virtude da “mulher adúltera”: Ibn Gabirol e a dignidade da matéria
Author(s) -
Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo
Publication year - 2018
Publication title -
veritas
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 1984-6746
pISSN - 0042-3955
DOI - 10.15448/1984-6746.2018.1.29653
Subject(s) - philosophy , humanities
Podemos dizer que a predominância da forma sobre a matéria - ontologicamente, em hierarquia e em dignidade - no pensamento medieval é quase unânime. Na maior parte das propostas medievais de compatibilização entre filosofia e religião, a matéria sensível foi vista como bastarda (já que sua origem raramente é explicitada), como fonte da imperfeição, da carência e da falha, e, por vezes, associada diretamente ao mal e ao pecado. A imagem da matéria como mulher pecadora de origem duvidosa está já presente em Ibn Sina e passa a Maimônides que, comparando-a à adúltera, afirma que, apesar de manter um vínculo marital com uma forma, não cessa de mover-se, buscando constantemente outra forma para substituí-la. Pelas particularidades de sua doutrina, Ibn Gabirol não teve problemas ao abordar essa questão, inclusive quanto a indicar a origem da matéria – tema evitado pela maioria dos filósofos - mas não sem despertar fortes críticas de seus leitores contemporâneos e ao longo especificamente em relação à matéria, levantamos aqui as seguintes: 1) matéria não é corpo; 2) a matéria inteligível não é essencialmente distinta da matéria sensível; 3) a matéria não é a fonte da diversidade e da multiplicidade; 4) a matéria provém diretamente da Essência de Deus. Portanto, ainda que Ibn Gabirol mantenha as qualidades que, por outros filósofos, foram entendidas como sendo o caráter volúvel dessa mulher – ou seja, o fato de que ela está sempre apta a receber muitas formas – nada há que desabone sua conduta.

The content you want is available to Zendy users.

Already have an account? Click here to sign in.
Having issues? You can contact us here