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Podia arredondar a boca e soprar verdades, nem por isso eu confiaria
Author(s) -
Samla Borges Canilha
Publication year - 2021
Publication title -
navegações
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 1983-4276
pISSN - 1982-8527
DOI - 10.15448/1983-4276.2021.2.40885
Subject(s) - humanities , physics , philosophy
Autora de uma potente e pouco tratada obra, a portuguesa Mafalda Ivo Cruz tem uma escrita não raro considerada hermética devido à fragmentação, à não linearidade e à diversidade de vozes, muitas vezes apresentadas de forma caótica e associadas a uma ruptura espaciotemporal. Em Oz (2006), essas características estão a serviço de uma narrativa que trata da prisão de um artista – Oz – pelo abuso sexual de sua vizinha. A justiça do encarceramento é posta em questão, e a narrativa baseia-se nessa dúvida. Para tanto, Cruz recorre a um texto composto por diferentes perspectivas e vozes narrativas, de forma que as falhas de memória de uma personagem e os pontos omitidos são preenchidos por outras, formando um todo coeso. Isso, porém, não significa necessariamente clareza, mas pelo contrário: temos que tentar, sozinhos, organizar o caos em que nos colocados. Resolver o mote da narrativa, acaba, assim, ultrapassando a simples descoberta do culpado, principalmente porque somos guiados nessa investigação por vozes que não sabemos se confiáveis – incluindo, aliás, um possível criminoso. Com isso, a rede estética em que Cruz nos enreda acaba mostrando-se muito mais importante que a resolução da investigação criminosa.

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