
Imaginário instituído, imaginário instituinte e identidade:
Author(s) -
Cláudia Teixeira
Publication year - 2019
Publication title -
hvmanitas
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
SCImago Journal Rank - 0.101
0eISSN - 2183-1718
pISSN - 0871-1569
DOI - 10.14195/2183-1718_74_4
Subject(s) - humanities , philosophy , art
Partindo do pressuposto de que a Eneida é uma obra que evoca um momento histórico no qual ocorreu um processo de transição cultural, este artigo analisa a forma como Virgílio define os imaginários instituído e instituinte da sociedade romana nos livros VI e VIII e o modo como o poeta integra o imaginário da nova ordem político-cultural no plano do processo histórico, em cuja ativação o conceito de identidade romana desempenhou um papel central. Assim, analisa-se a cosmovisão que Virgílio cria no livro VI da Eneida entre os imaginários instituído e instituinte, argumentando-se que a organização da matéria histórica forma um universo valorativamente ininterrupto e uma visão unificada da História, uma vez que o projeto augustano, longe de se alavancar em uma resposta crítica ao simbolismo institucional, surge como recriação do edifício simbólico anterior. A análise das guerras itálicas (livro VIII) dá continuidade à expressão do imaginário da Pax Romana e oferece novos elementos para a conceptualização do Outro na Eneida. A missão que Anquises atribui ao império (6. 851-853) ganha uma amplificação qualitativa, com a integração etrusca na coligação: os contornos dessa integração, que implicam o reconhecimento de que nos povos nativos se encontram aspirações à justiça, redefine o conceito de Outro, dotando consequentemente o papel de Eneias nas guerras de um valor axiológico.Por fim, discute-se se a morte de Turno oblitera a construção do imaginário da Pax desenhado nos livros VI e VIII, argumentando-se que a decisão de Eneias, mais do que pôr em causa essa construção, expressa as tensões que tipicamente ocorrem em momentos de fronteira, marcados pela oscilação entre o compromisso com o passado histórico da sociedade instituída e a adesão ao projeto da uma sociedade que se pretende instituir.