
Saque e assassinato: a violência contra a mulher no filme Grito da terra
Author(s) -
Maurício Matos dos Santos Pereira
Publication year - 2019
Publication title -
légua and meia/légua and meia
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2177-0344
pISSN - 1676-5095
DOI - 10.13102/lm.v9i1.4537
Subject(s) - humanities , art , sociology , gender studies
Partindo do duplo lugar de gênero construído pelas personagens de Mariá e de Lóli, no filme O Grito da Terra (1964), de Olney São Paulo, o presente artigo discute a violência contra a mulher como signo tanto da permanência das relações articuladas com a tradição familiar, quanto da opressão sofrida pelas duas famílias de pequenos agricultores moradores de uma região pobre do Brasil que não havia conhecido modernização, diante do poder local dos grandes proprietários de terra. Produzido em contexto de autoritarismo de Estado, o argumento sobre o lugar da violência contra as mulheres no filme não se encontra dissociado da história, da cultura e da vida política do país, mas torna visível uma violência estrutural sobre os subalternos, que não tinham sido reconhecidos pelo processo encampado pela ditadura militar, pelos movimentos de crítica ao regime sobretudo via cinema, e pela implantação da indústria cultural. Nesse aparente vazio que se abre pelo não reconhecimento deste outro habitante pobre e mulher de tal região, levando em conta as diferentes trajetórias de vida construídas no filme pelas relações que tais mulheres travam ao longo da narrativa, interessam os significados e valores postos em circulação nas relações deste corpo feminino com as forças políticas da região, tais como o Coronel Sebastião dono de terra, o professor, além, mais estritamente falando, das relações domésticas das personagens com Apolinário, pai de Mariá, e Silvério, de Lóli.