
Política e racionalidade: os limites do debate argumentativo
Author(s) -
Luiz Paulo Rouanet
Publication year - 2021
Publication title -
revista quaestio iuris/quaestio iuris
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 1807-8389
pISSN - 1516-0351
DOI - 10.12957/rqi.2021.62779
Subject(s) - philosophy , humanities
Um dos grandes problemas de nossa época parece ser a dificuldade, ou em muitos casos, a impossibilidade de se estabelecer um debate mediante argumentos. Na maior parte das vezes, o que se vê são opiniões não fundamentadas brandidas como se fossem verdades incontestáveis, de uma parte e de outra. É como se houvéssemos retrocedido a uma época na qual nem sequer se soubesse que é possível procurar a verdade – por exemplo, a Grécia na época de Sócrates. Os Diálogos de Platão mostram como boa parte dos interlocutores de Sócrates nem sequer entende sua busca pela verdade, a busca pela essência das coisas e dos conceitos: o que é o Belo? (Lísias); O que é a virtude? (Protágoras); O que é a coragem (Laques) e assim por diante. O que nos propomos aqui, no entanto, é abordar a questão da “dissonância comunicativa” que parece ser uma característica de nossa época: a multiplicidade de concepções teóricas, políticas, ideológicas e/ou religiosas torna cada vez mais difícil se pensar em termos de um “consenso por sobreposição”, como queria Rawls. É a fim de compreender melhor esse fenômeno, e buscar soluções, que nos voltamos para as obras de de Chaïm Perelman e de John Rawls.