O "NÃO-PAPEL" FEMININO EM MANA MARIA

A obra Mana Maria (1936), único romance de António de Alcântara Machado (1901-1935), é considerada o momento de consolidação do estilo praticado pelo prosador modernista. O presente trabalho propõe o estudo das duas principais vertentes da tradição crítica do romance, bem como a análise da singularidade da obra dentro da produção do escritor. O romance foi entendido, inicialmente, como uma expressão, temática e estrutural, mais complexa em relação ao tratamento da personagem, a saída da tipificação. Em um segundo momento, Mana Maria é vista como um retrato de uma oligarquia em franca decadência social, dividida entre a glorificação do passado e a banalização do presente. A personagem protagonista seria a defesa dos valores dos “paulistas de 400 anos” e a resistência às modificações no complexo cenário da metrópole em expansão. Nesse sentido, a obra seria, também, a resposta amargurada de São Paulo à reação do país durante a Revolução Constitucionalista (1932). Para o estudo da tradição crítica e da questão da personagem no romance de 30, recorreram-se às análises de Mário de Andrade (1936), Luís Toledo Machado (1970), Cecília de Lara (1988), Sérgio Miceli (2001) e Luís Bueno (2015), entre outros. É perceptível uma guinada no direcionamento literário do escritor, que acompanhava com interesse a produção romanesca de 1930. Cabe assinalar, assim, que o papel feminino adquire um novo status dentro da obra do escritor modernista, ao mesmo tempo que compartilha pontos de contato com as fortes representações das imagens da mulher, que povoam os romances de 30.