
NAS BORDAS DO TEMPO: A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DO DUPLO VAMPIRO/JUDEU ERRANTE EM UM CONTO DE AGUALUSA
Author(s) -
Maira Angélica Pandolfi,
Tiago Souza da Cruz
Publication year - 2021
Publication title -
abusões
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2525-4022
DOI - 10.12957/abusoes.2021.55032
Subject(s) - humanities , art , philosophy , mythology , theology
RESUMO: No conto “O último dia do ano”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, dois velhos conhecidos que vagam, há séculos, por cenários catastróficos, tem um encontro marcado em um restaurante de Manhattan. São heróis desterritorializados, figuras mitológicas que carregam uma maldição histórica: a de vagar por toda eternidade. Assim, vampiro e judeu errante perambulam por espaços reais, carregados pela corrente fluida do tempo. Eles penetram na memória dos acontecimentos passados e, ao mesmo tempo, anseiam pela ruptura do interminável ciclo da vida, como se esperassem por um milagre. Há também um terceiro elemento, denominado “ELE” para compor a tríade da (arqui)estrutura vampírica, conectando passado e futuro nessa borda do tempo, nesse místico cronotopo que é o último dia do ano em Manhattan. A análise se pauta em uma leitura a partir da perspectiva simbólica, contando com os estudos de Bruno Berlendis de Carvalho (2010) e Pierre Brunel (2005) para a reflexão sobre a visitação aos mitos literários do vampiro e do judeu errante, além do aporte teórico de Stuart Hall (2003) sobre as diásporas e de reflexões sobre a cultura e o entre-lugar, tratados por Homi Bhabha (1998). Consideramos, ainda, as contribuições de Maurice Halbwachs (1990) sobre o tema da memória coletiva e das relações entre memória e história. A partir disso, concluímos que as figuras míticas utilizadas por Agualusa problematizam questões recorrentes em seu projeto político-literário. É o caso das diásporas, que desencadeiam relações complexas de identidades fronteiriças e de memória na Pós-Modernidade.