
ROBERT LOUIS STEVENSON E O INSÓLITO JOGO DE ESPELHOS EM "MARKHEIM" (1884)
Author(s) -
Renato Barros de Castro
Publication year - 2020
Publication title -
abusões
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2525-4022
DOI - 10.12957/abusoes.2020.48791
Subject(s) - humanities , emblem , art , philosophy , literature
Este trabalho aborda um dos temas mais caros à literatura fantástica, a saber, o tema da duplicidade e da multiplicidade do “eu”, construído em uma narrativa de crime que privilegia uma série de eventos insólitos. A partir de uma análise sobre as discussões acerca do gênero fantástico e do seu surgimento, tendo por fundamentação teórica autores como Tzvetan Todorov e David Roas, o artigo pretende analisar o conto Markheim (1884), de Robert Louis Stevenson (1850-94), sob a perspectiva da construção da alteridade na narrativa, sem deixar de considerar os demais elementos que dialogam com textos de Edgar Allan Poe, um dos predecessores canônicos no gênero. Em Markheim, como em nenhuma outra narrativa de Stevenson (mesmo O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde), pode-se apreciar com tanta clareza a capacidade construtiva do autor e a forma como orquestra o uso dos elementos emblemáticos do fantástico e do insólito, conduzindo o leitor gradativamente ao estado de hesitação de que fala Todorov. Tudo isso não apenas por conta da meticulosa escolha das palavras, mas também graças a uma habilidade ímpar em evocar imagens, criar atmosferas e – principalmente – levar o tema da duplicidade ao ponto de proporcionar, ao leitor, uma reflexão aprofundada sobre a consciência humana e aos estranhos “eus” que carrega em si mesmo. Estudando o modo como se dá a construção dos elementos emblemáticos do fantástico na narrativa de crime Markheim – bem como os elementos de desestabilização da realidade –, este estudo espera trazer à tona um dos esteios da obra de Stevenson, revelador das angústias de toda uma geração de escritores.