
Literaturas em português: encruzilhadas atlânticas
Author(s) -
Inocência Mata
Publication year - 2014
Publication title -
via atlântica
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
eISSN - 2317-8086
pISSN - 1516-5159
DOI - 10.11606/va.v0i25.69870
Subject(s) - humanities , art , philosophy
Proponho-me reflectir sobre a relação entre memória e identidade e os meandros do agenciamento identitário pós-colonial, tanto da parte de portugueses quanto de africanos (com reflexos nas relações entre Portugal e o Brasil), em período pós-colonial. É que a partir de 1975, isto é, depois das independências políticas das colónias e da “retracção” territorial definitiva de Portugal ao espaço ibérico e insular da Macaronésia setentrional, a relação com o além-mar – a que vamos chamar simbolicamente atlântico , na esteira da dimensão significativa a que se referem os historiadores no estudo da reconfiguração do mundo através do Atlântico, ou Paul Gilroy no seu livro The Black Atlantic: Modernity and Double Consciousness (1993), sobretudo na dimensão crítica, que o livro encerra, ao essencialismo e ao relativismo culturais. É essa dimensão de além-mar (a que não chamarei “ultramarina” pela intensa ideologia que subjaz ao sentido histórico deste termo), que filósofos e historiadores afirmam ser estruturante da europeidade portuguesa, e que os críticos querem encontrar na literatura, que tem vindo a ser actualizada com um misto de intenção de localização histórica, ambição heroicizante do passado e afirmação refigurativa de uma identidade atlântica.