z-logo
open-access-imgOpen Access
Como os Airbnb da comida promovem a cena gastronômica em ambientes domésticos
Author(s) -
M. Gavioli
Publication year - 2019
Publication title -
revista ingesta
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2596-3147
DOI - 10.11606/issn.2596-3147.v1i2p218
Subject(s) - humanities , art , mathematics
A proposta deste trabalho é apresentar o resultado da pesquisa feita com pessoas que recebem em casa para refeições compartilhadas a partir de plataformas de internet que oferecem experiências gastronômicas. Da soleira para dentro, a cena gastronômica não ocorre ao acaso porque é um ato de hospitalidade que Luiz Octávio de Lima Camargo “ressalta de forma inequívoca como um ritual, com dois atores e o espaço no qual uma marcação precisa, no sentido teatral da palavra, se desenrola”. Um jantar compartilhado não é uma atividade corriqueira em que as pessoas apenas se encontram fortuitamente, sentam-se ao redor de uma mesa e comem juntas. A cena gastronômica de que trata esse trabalho é um ritual no qual estão envolvidos protagonistas, coadjuvantes e figurantes atuando em um cenário cuja indumentária e a comida são elementos cênicos fundamentais e há um roteiro a ser seguido. Para que a cena transcorra há ensaios e bastidores. A ausência de qualquer desses elementos indispensáveis leva ao fracasso do espetáculo. Como nos roteiros de teatro, a divisão em atos e cenas marca os tempos que compõem a peça como um todo e, conforme o texto se vai desenvolvendo, no decorrer da encenação, misturam-se marcações e improvisos, sem que a plateia sequer perceba. Atores e expectadores participam do espetáculo, passam por momentos de entrosamento, tensões e expectativas, vivem emoções que podem levar à gargalhada, ao riso ou às lágrimas e experimentam o clímax, tendo consigo a certeza de um desfecho em breve, que pode ser trágico ou feliz, dependendo do gênero que tenham escolhido previamente. A comensalidade tratada pelo viés do encontro hospitaleiro que ocorre em ambientes domésticos a partir da comercialização feita por sites de compartilhamento de refeições – os “Airbnb” da comida” – possibilita a reflexão sobre a comida e os costumes à mesa como sinais distintivos e/ou identitários de crenças compartilhadas. A relação entre anfitrião e convidado, representados, respectivamente, por chef-anfitrião e hóspede-comensal, ganha um novo entendimento. Segundo Pierre Bourdieu, aquilo que é compreendido como natural ou aquilo que se aprende como tal é uma interpretação cultural e distintiva dos indivíduos e seus grupos. O homem nutre-se também do imaginário e de significados partilhando representações coletivas, como trata Claude Fischler. À mesa não se compartilham apenas alimentos, mas também ideias, ideais, entendimentos, desejos, prazeres, ou seja, valores simbólicos.

The content you want is available to Zendy users.

Already have an account? Click here to sign in.
Having issues? You can contact us here