O processo é a obra: alguns apontamentos sobre a série “Sobras” de Geraldo de Barros

Nos dois últimos anos de sua vida, Geraldo de Barros dedicou-se à elaboração da série “Sobras”, que restou inacabada devido à morte do artista em 1998. Em função dessa produção ter sido interrompida em pleno desenvolvimento, não é possível precisar os rumos que Barros lhe daria. Apesar de tal limitação, este artigo buscou identificar os procedimentos criativos acionados pelo artista, com o objetivo de compreender quais foram os princípios poéticos que o guiaram durante a realização da série. Este estudo foi empreendido por meio do exame dos artefatos que a compõem e dos materiais que restaram de sua produção. A investigação norteou-se pelas diretrizes teóricas e metodológicas da crítica de processos de criação, formuladas pela estudiosa Cecília Almeida Salles. Como resultado, propõe-se que a série “Sobras” seja compreendida a partir de uma perspectiva na qual os limites entre processo e obra não sejam tão delimitados. Tal proposta não advém dos limites que a condição inacabada do trabalho impôs à análise, mas da constatação de que Geraldo de Barros percebia as obras da série não como etapas finais, mas como artefatos transitórios e dinâmicos.