z-logo
open-access-imgOpen Access
A Perturbadora presença animal: a "Representação" do outro da nossa cultura , em "Volamos" de Antonio Di Benedetto
Author(s) -
Ana Carolina Macena Francini
Publication year - 2017
Publication title -
revista entrecaminos
Language(s) - Portuguese
Resource type - Journals
ISSN - 2447-9748
DOI - 10.11606/issn.2447-9748.v2i1p09-18
Subject(s) - humanities , philosophy , michel foucault , art , political science , law , politics
Em As palavras e as coisas, Michel Foucault tece reflexões sobre a “mesmidade”, uniformidade, do pensamento ocidental, ordenado pela linguagem, ou melhor, por suas ruínas. Entretanto é interessante notar que é a partir da perturbação causada pelo conto fantástico “O idioma analítico de John Wilkins”, de Jorge Luis Borges, que Foucault inicia sua trajetória de perscrutar as ruínas da linguagem que outrora deram sustentação ao conhecimento e suas taxonomias, desdobrando-se numa discussão inerente à modernidade sobre a capacidade da linguagem de nomear as coisas e os seres viventes do mundo ao confiná-los em categorias. Para o filósofo francês, "uma certa enciclopédia chinesa", citada no relato de Borges, causa riso e perturbação, já que a tentativa de classificação dos animais por meio da ordem alfabética delata as limitações do pensamento racional de abarcar o ‘outro’ e remete ao impensável, à desordem e ao caos. Por sua vez, o intento de classificação no conto borgiano, na verdade, interpela exatamente sobre a impossibilidade dessa ordenação por meio da linguagem, do discurso racional, que somente pode fazê-la forjando categorias. Daí seja possível pensar o discurso literário - neste caso, o conto fantástico- como espaço privilegiado para sondar o “outro” de nossa cultura, ao “escavar” a linguagem, descentralizando os sentidos e desestabilizando o sistema de categorias, como faz o texto de Borges. Este também será o percurso deste trabalho que apresenta um estudo do conto "Volamos", presente no livro Mundo Animal (1953), do argentino Antonio Di Benedetto, publicado no pós-guerra, período em que as concepções dominantes sobre o humano entram em crise e nota-se um inegável interesse em problematizar os conceitos sobre humanidade e animalidade, por meio da ficção. A análise desse conto, considerado pertencente ao modo fantástico da literatura, indaga sobre como o sentimento perturbador que caracteriza esse estilo pode surgir da (estranha e ao mesmo tempo familiar) presença animal, uma presença não totalmente ‘pensável’ pela racionalidade humana confinada no Mesmo, porém repleta de sentido.

The content you want is available to Zendy users.

Already have an account? Click here to sign in.
Having issues? You can contact us here